Essa é a premissa defendida por Vincent Mosco, professor da Queen’s University do Canadá, no artigo "The future of journalism", publicado no número especial de junho da revista Journalism. Mosco aponta para a "crise" que a área vive, sobretudo na manutenção dos postos de trabalho.
Para exemplificar isso, ele aponta para o estudo realizado pela American Society of Newspaper Editors (ASNE), que constata que no ano de 2007, houve uma queda de 4,4% no número de jornalistas em redações, o que significa menos 2400 profissionais empregados.
O movimento de crise foi também seguido, segundo Mosco, pela maior editora de jornais nos Estados Unidos, a Gannett, que anunciou a demissão de 3000 pessoas (10% de sua força de trabalho); o Times Inc., empresa responsável pelas revistas Time, People, Sports Ilustrated e Fortune, cortou 600 postos de trabalho; o Christian Science Monitor, jornal diário que existia a mais de uma século, anunciou que iria descontinuar a impressão; o Tribune Company, que após sucessivos cortes de equipe, anunciou o fechamento de mais 75 postos de trabalho na redação do Los Angeles Times, ficando com metade da equipe que tinha em 2001 e, mesmo o New York Times, que havia demitido membros da equipe de redação. Não é sem motivo, que em meio a essa "maré" de demissões, um colunista tenha dito, conforme parafraseado por Mosco, que o "céu está caindo e é difícil saber quantos serão deixados para cobrir a história".
O que pensa concretamente Mosco dessa situação? Ele afirma que:
É difícil discordar da opinião de que uma combinação de inovação tecnológica, bem como a consolidação de empresas e governos neoliberais, tenha contribuído para a perda de emprego. Alguns argumentam que, o declínio nas fileiras dos jornalistas, como tradicionalmente se definiu, tem sido compensada pelo crescimento de novas formas de jornalismo, principalmente online, incluindo blogs, jornalismo cidadão, ‘I-reporting’, e uma variedade de adaptações a partir de sites de redes sociais. Estes são, reconhecidamente, importantes empreendimentos para se narrar histórias, mas, além de algumas exceções, aqueles contando as histórias não são jornalistas. Eles não são treinados no ofício. Eles não são treinados para recolher e avaliar informações [...] ou corroborar o que eles coletam. Além disso, as novas tecnologias também podem ser usadas para terceirizar o trabalho dos jornalistas profissionais, como a Reuters fez quando mudou, mais ou menos, mil postos de trabalho do Reino Unido para a Índia.
O argumento tem lógica. A lógica do capitalismo e do lucro, que obviamente, em tempos de crise, procura meios de estabilizar e aumentar seus lucros. É claro que, aquele jornalista que perdeu seu emprego para um "modelo de negócios baseado na internet" - que muitas vezes é o discurso enfatizado na hora da demissão - tenha inúmeras resistências ao jornalismo on-line, aos blogs ou mesmo ao jornalismo cidadão.
E qual é o futuro vislumbrado por Mosco? Para ele,
Especificamente, o futuro da saúde do jornalismo, depende da capacidade dos jornalistas se unirem, nacional e internacionalmente, para defender os seus interesses. Eles precisam convencer as pessoas, incluindo políticos, meios de comunicação, proprietários e consumidores de notícias, que o que importa para todos nós, é que os jornalistas funcionam melhor quando são profissionais seguros, e que a diversidade é essencial para a democracia. Mudanças na política do governo, pode ajudar, incluindo a limitação de fusões de mídia, que muitas vezes acontecem ao custo trabalhista, bem como facilitar o processo de criação de sindicatos e, se engajar em negociações coletivas.
Essa união dos trabalhadores da comunicação, é o que ele chama de "convergência de trabalho" (labor convergence) e, se fortaleceria, na medida em que "novas formas de organização dos trabalhadores se assemelhem a movimentos sociais". É claro que Mosco reconhece que isso, por si só, não garante sucesso, mas a retomada das "raízes da profissão", para reaquecer a organização dos profissioinais, pode ser um caminho.
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