Essa é uma questão espinhosa, para não usar adjetivos constrangedores. Pelo menos, essa é a impressão, quando se lê o texto de Oliver Boyd-Barrett, professor do Departamento de Journalismo da Bowling Green State University, em Ohio (EUA). O artigo intitulado "Contra the journalism of complicity" foi publicado no número especial de junho da revista Journalism.
O texto é marcante, pois o autor não mede "exemplos" para falar do processo de cooptação que parece pairar sobre a mídia. Logo no início do artigo, Boyd-Barrett, de forma "poética", que me fez lembrar das aulas de Teoria Marxista, afirmou:
Forte? Talvez um pouco, para os padrões eufemísticos, que a mídia do século XXI parece querer explorar como objeto de desejo. Talvez seja esse um problema desse início de século, de uma lado temos a exploração da imagem dos "miseráveis e pobres" ao extremo e, de outro, a atenuação dos "pecados" dos países ricos, que não medem esforços na hora de invadir um país, como ele chama, um "aleijão". Não é sem motivo, que ele cite o Afeganistão e o Iraque, como exemplos dessa cultura do eufemismo midiático.
Um odor emana do poço jornalístico. É o cheiro da cumplicidade com as agendas das elites empresariais, políticas e plutocráticas. É o cheiro da dependência da rotina de enganadores, da preguiça, da covardia e da arrogância. [...] A mídia dá cobertura a guerras travadas com falsos pretextos e à custa de “aleijões”. A rainha está no quarto, e os “impressores”, ficam na ponta dos pés, de forma educada e distraída, enquanto princípios constitucionais e direitos são desmontados e ridicularizados.
Forte? Talvez um pouco, para os padrões eufemísticos, que a mídia do século XXI parece querer explorar como objeto de desejo. Talvez seja esse um problema desse início de século, de uma lado temos a exploração da imagem dos "miseráveis e pobres" ao extremo e, de outro, a atenuação dos "pecados" dos países ricos, que não medem esforços na hora de invadir um país, como ele chama, um "aleijão". Não é sem motivo, que ele cite o Afeganistão e o Iraque, como exemplos dessa cultura do eufemismo midiático.
Mas ele não pára aí. Ele dá mais ênfase a essa cooptção da mídia e da reificação dos países ricos:
[...] A grande mídia está adormecido ao volante, confortavelmente comunica o mundo través de lentes do poder plutocrático e autoritário. Raramente, eles exibem impetuosidade para a batalha em nome de pessoas comuns, sem levar em conta riqueza, raça, etnia e gênero. Ao invés de dar voz à verdade, eles dão voz ao poder.
É, Boyd-Barrett não mediu palavras, ao indicar que a mídia, muitas vezes, tem sido porta-voz do poder. A outra comparação feita no texto, que dá muito em que pensar, é a da mídia como apenas observadora, inerte. Ele diz que a mídia é como uma "soldado em um cavalo, com sabre reluzente, farda bonita e ,que cavalga, entre centenas de milhares, milhões de cadáveres de homens, mulheres e crianças", mas que não se compadece, já que de forma cúmplice, apenas tem como "missão observar a carnificina, não expor o esquema de guerra". "Essa é a imprensa moderna, que é cúmplice na invasão do Iraque, assim como foi no Vietnã", reforça Boyd-Barrett.
Não há como dizer, que o discurso está ultrapassado ou mesmo, que é parcial. Penso que não há imparcialidade quando vidas foram destruídas e a mídia silenciou. Posso não concordar com todo o discurso, mas não há como negar que, nesse campo, a mídia deixou a desejar nesse início de século. E continua, quando deixa de discutir esses temas, de uma história que está sendo construída todos os dias.
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