Essa é uma boa questão: será o jornalismo cidadão uma alternativa para superar a crise dos meios? Para poder entender melhor, precisaremos dividir essa questão em outras duas: "o que é jornalismo cidadão?" e, "que crise dos meios ocorre?".
Vamos a primeira questão: o que é jornalismo cidadão? Basicamente é a forma de produção da notícia em que a estruturação do conteúdo é realizada em parceria com pessoas sem formação jornalística e um profissional da área. Essa construção "colaborativa" , que obviamente padece de problemas de forma e estilo, não perde, na maioria dos casos, em consistência e fidedignidade factual, já que ele é registrado pelo espectador original.
Cabe aqui uma ressalva: o registro é, e sempre será, um recorte do "real", consistindo em uma realidade própria do olhar do sujeito. O observador original constrói seu olhar, registrando os fatos que lhe parecem ser os mais importantes, mais significativos, isto é, sua "realidade". Em muitos casos, a realidade do espectador não é a mesma do jornalista, que fará o ajuste na notícia, afim de garantir a noticiabilidade do fato. Esses "ajustes", que podem ir desde a forma e o estilo e, que pode chegar até ao factível, faz a riqueza desse tipo de jornalismo, construído "a quatro mãos" ou, como alguns chamam, em rede.
Será esse tipo de jornalismo viável? As experiências mostram que sim. Por exemplo, David Watts Barton, editor chefe do Sacramento Press Journalism Open, abriu um concurso em que os cidadãos participam produzindo notícias. A idéia é que os participantes, cidadãos em geral da região de abrangência do jornal, possam "cometer atos de jornalismo", registrando acontecimentos.
Outro jornal, o The Guardian, do Reino Unido, criou o "Guardian Local" com foco inicial em três cidades - Edimburgo (Escócia), Cardiff (País de Gales) e Leeds (Inglaterra). A proposta é que blogueiros e jornalistas cidadãos possam produzir notícias sobre corrupção das instituições a partir de 2010. Com isso, cria-se uma "vigilância" constante das instituições. Como participar? Os requisitos são bem práticos: não precisa ser jornalista diplomado ou com formação específica, mas é necessário ter um blog, ser usuário do Twitter, saber como estabelecer contato com a comunidade e sentir paixão pela informação local.
Ainda na Inglaterra, a Associated Northcliffe Digital, inicou uma campanha para a criação de 50 novos sítios hiperlocais. A aposta da entidade, sob o lema "Teu lugar, tua gente", é desenvolver em cidades com menos de 50 mil habitantes, um sistema local de notícias. Esse desenvolvimento local da mídia, permite também o desenvolvimento de novos anunciantes. Uma visita rápida ao sítio, mostra que a idéia está dando certo.
Nas "bandas de cá" das Américas, o The New York Times, criou o "The Local", onde os membros das comunidades locais de Nova York, Nova Jérsei, Long Island e Connecticut, podem produzir e divulgar suas notícias. O lema, bem interessante por sinal, é: "Sua cidade. Seu bairro, seu quarteirão. Coberto por e para você". Em Palmas (Tocantins), temos um experiência bem interessante: é o Jornal A Boca do Povo, com o lema "Aqui você faz a notícia". A proposta, assim como outros periódicos produzidos, é a valorização da "presença do cidadão como autor dos textos e não apenas como fonte de informação".
A resposta a questão "será esse tipo de jornalismo viável?", é sim. Parece-me claro, que surge um modelo de negócio mais centrado no local e no potencial que esse tem de atrair novos anunciantes. Talvez aqui tenhamos uma saída para a crise dos meios. E já que tocamos nesse aspecto, "que crise dos meios ocorre?". Em outros posts, indicamos que o jornalismo tradicional, baseado no modelo de negócios atual, com seu sistema de tiragem e assinaturas, encontra-se em crise. Essa crise, não constitui-se apenas na produção e impressão da notícia, mas vai pelo esgotamento que o modelo pago e a própria distribuição apresentam, face aos movimentos de notícia "free".
Há saída para a crise? É claro que sim. Toda crise, pressupõe uma mudança de paradigma e, nesse sentido, o esgotamento do modelo de negócios atual dos jornais, que afeta a própria forma de fazer jornalismo e de atuação de seus profissionais, pode encontrar um "fôlego" nas experiências do jornalismo cidadão. É cedo para afirmar, que o jornalismo cidadão é a solução mais viável, mas já dá para vislumbrar uma "luz" no meio dessa tumultuada escuridão, que parece afetar todos os jornais.
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