Howard Tumber, professor da City of London University, no Reino Unido e, Barbie Zelizer, professora da University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, exercitaram a difícil tarefa de pensar, em poucas linhas, sobre o futuro do jornalismo. No editorial da revista Journalism, intitulado "Special 10th anniversary issue – the future of journalism", apresentaram uma visão ponderada, para não dizer filosófica, da idéia do futuro do jornalismo.
Falando sobre a problemática da idéia de futuro, os professores apontaram para a influência que o futuro tem sobre o presente. Como assim? Bem, a idéia dos autores é que em práticas jornalísticas amplas, tais como a previsão do clima, a projeção de risco de um determinado evento ou mesmo em uma notícia sobre a aplicação da Lei, o futuro tem relevância na forma como nos envolvemos com o presente. Dito de outro forma: o presente é modificado pela previsões futuras do que pode vir a ser, mas ainda não o é.
Para os autores,
A academia não está imune aos encantos sedutores e limitações do futuro. [...] O jornalismo vem com um conjunto contraditório de expectativas. Por um lado, a volatilidade financeira, a diminuição de receitas, as aquisições, a diminuição de audiência, as preocupações com a segurança física [...] Inversamente, espera-se florescer: a informação é abundante e, é mais acessível do que nunca, as variedades de conteúdo e forma, são inigualáveis na história, e há mais pessoas envolvidas do que em qualquer outro ponto no tempo, no jornalismo, sejam produtores e seus consumidores. A tarefa de "auguriar" um futuro vem de encontro a esses conjuntos de conflitantes expectativas sobre a próxima etapa do desenvolvimento do jornalismo.
Na antiga Roma, nada era feito sem a aprovação dos áugures e dos presságios que esses tinham a trazer. O futuro era "portado" por alguém que trazia as notícias do "portão celeste dos deuses" e as decifravam aos meros mortais. Será que o jornalista assume uma função semelhante? Não me arrisco a dizer que sim, mas pela fala dos autores, não tenho como não lembrar desse evento e da função desempenhada pelo portadores da notícia.
De qualquer forma, algo apontado pelos autores faz muito sentido no tempo que nos encontramos. Para eles,
Por um lado, projetar o futuro poderia tentar-nos a pensar sobre o que vem com mudanças, como complacência, otimismo e uma renovada fé em tudo o que nós identificamos como notícia. Por outro lado, pode intensificar as nossas preocupações, comprometer as nossas esperanças e deixar-nos saber o que fazer com um fenômeno que tem estado conosco enquanto informação, mas cuja durabilidade não é mais reconhecível ao certo.É, esss afirmações deixam dúvidas no ar. Qual será o real papel do jornalismo e, desse portador de notícias, o jornalista? (Se é que tem algum definido ou a definir.) Qual sua "identidade", em um tempo de indefinições e de ausências discursivas, que defendam posicionamentos claros e praticáveis? Não sei as respostas, mas tenho pistas que construo uma a uma, ao caminhar em meus estudos da área.
Dessa forma, ficam as minhas indagações e, as dos autores, sobre isso que nós chamamos de "futuro do jornalismo":
É apenas a natureza humana a lamentar sobre o presente, de modo a manter-nos em movimento em direção a um futuro meta-orientado por nossas ações? Ou será que estamos focados em um real e relativo conjunto de problemas? [...] É o modelo de notícia europeu que liderará o projeto jornalístico? Pode uma "multiplataforma" jornalística alterar a "paisagem" da notícia? O jornalismo vai salvar-se por meio de uma reorientação para os trabalhadores e os consumidores?
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