Ontem resolvi almoçar com minha esposa e cunhada na Praia do Prata (Palmas). Ela é uma das dezenas de praias de água doce do Tocantins. Você pode ver a seguir sua localização e detalhes.
Bem, voltemos ao "causo". Minha esposa foi bem cedo, pois queria tomar banho antes. Por volta do meio dia veio buscar-me. Quando retornamos e estacionamos o carro, fomos abordados por um jovem "de farda de vigia" que se apresentou como "guardador de carros autorizado pela prefeitura de Palmas" e, já foi passando um papel com o valor de R$ 5,00 (cinco reais) para encostar o carro na areia.
Bem, voltemos ao "causo". Minha esposa foi bem cedo, pois queria tomar banho antes. Por volta do meio dia veio buscar-me. Quando retornamos e estacionamos o carro, fomos abordados por um jovem "de farda de vigia" que se apresentou como "guardador de carros autorizado pela prefeitura de Palmas" e, já foi passando um papel com o valor de R$ 5,00 (cinco reais) para encostar o carro na areia.
Fiquei extremamente consternado, pois estávamos em um espaço público, criado e mantido para lazer com dinheiro dos impostos que pagamos. Indaguei sobre o não pagamento - não pelo valor, mas pelo descaso e da desobrigação do dignatário público em cumprir seu papel de proteção ao patrîmônio privado, já que essa é uma das funções do poder municipal - depois de muita desculpa esfarrapada do jovem, ele disse em um tom de ameaça: "o sr. paga só R$ 2,00 se não ficar para o show" (que aconteceria entre as 17:00 e 22:00 h e que é realizado com dinheiro público).
Da última vez que não acatei o aviso de um jovem desses, em um estacionamento público, tive o meu carro, que é da cor preta, banhado na lateral por uma lata de tinta óleo branca! Dá para acreditar? O mais engraçado é que, algumas semanas depois, ao ministrar aula em uma pós-graduação para comandantes e coronéis da polícia e guarda metropolitana, trouxe o assunto a tona, só para ouvir desculpas escorregadias e, na política do "eu não sei de nada", jogar a responsabilidade para outros que não a querem ou mesmo não a aceitam como sua. É a política do descaso!
Essa situação me fez recordar de outra que aconteceu alguns meses antes aqui no Estado do Tocantins. Foi o caso do "aluguel" do Parque Estadual do Jalapão, uma área de preservação ambiental composto por um ecossistema frágil de cerrado, para a equipe norteamericana do reality show Survivor.
O Parque Estadual do Jalapão ficou fechado em suas principais áreas do mês de setembro/2008 a dezembro/2008. E o pior que a maioria dos moradores do estado somente veio a saber da situação, já quase no final de novembro/início de dezembro, por meio de duas reportagens feitas pela TV JOVEM PALMAS, afiliada da TV Record. A seguir coloco-as para apreciação.
Parte 1: Jalapão: Território de Estrangeiro?
Parte 2: Jalapão: Território de Estrangeiro?
Independente do que deveria acontecer e quem deveria saber, o que me preocupa é a temática da "privatização do espaço público". Até que ponto, um governo - seja municipal, estadual ou mesmo a União - pode "alugar" o bem público sem ferir a soberania nacional? A situação não poderia ser comparada a concessão de uma estrada/rodovia, já que para esse "aluguel do público" acontecer, deveria haver um edital de licitação pública e, depois disso, contrapartidas em melhorias em troca do pedágio pago.
Não vou ao outro extremo, mas convém indagar: poderíamos nós alugar o belo parque de Yellowstone para fazer um "reality show" e fechar o espaço soberano de outro país, impedindo que seus cidadãos tenham acesso ao seu patrimônio cultural? Lembro-me agora, de uma palestra que assisti na UnB enquanto fazia o mestrado proferida pelo prof. Cristóvam Buarque, hoje senador, que falava sobre o que chamou de "discurso da internacionalização" feita pelo países desenvolvidos sobre os países em desenvolvimento. Ele destacou que todos parecem querer internacionalizar o patrîmônio ambiental brasileiro (principalmente a Amazônia), daí ele afirmou (como me lembro agora): "então vamos internacionalizar também a Torre Eiffel... vamos internacionalizar o Grand Canyon... vamos internacionalizar todo patrimônio pertencente a qualquer país como patrimônio do homem".
De qualquer forma, estive no local dois meses depois para, "em um tom de turista", ver como estava o espaço ocupado pelo grupo americano. Não consegui ver sinal de devastação, a natureza se recuperou bem no local. Agora o que puder ver (e filmar) foi o assoreamento que a nascente do Rio Sussuapara (dentro do Parque do Jalapão) sofreu. Não pude detectar quem ou o que causou, mas veja o estrago que ocorreu. Estou andando onde antes havia um rio com "água pela cintura", como afirmou o guia.
Essa devia ser a preocupação principal: preservar o espaço público do parque da degradação que o próprio homem faz!
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