Essa é uma questão importante. O trabalho jornalístico, na modernidade, pressupõe a independência na produção da informação. Isso é tão evidente que, ao menor "ruído" de censura, as entidades representativas e os próprios profissionais já se manifestam.

De qualquer forma a pergunta intriga: quão independente é o jornalista? Se ele atuara em um grande jornal com uma linha editorial bem definida, como ele deve agir? E se, por outro lado, ele exerce suas funções em um pequeno veículo local, como responder aos anseios da comunidade e mesmo assim, ainda ser independente? Essas são situações que perpassam pela noção de ética.

É claro que, um código de ética, deve delinear essas questões limítrofes, permitindo aos profissionais da área, uma margem de atuação, dentro da Lei. É o que a França está fazendo, conforme noticiado pelo sítio Journalisme.com. Desde a eleição de Nicolas Sarkozy, a França passa por profundas modificações sociais. Segmentos antes "ignorados" (grupos minoritários, grupos religiosos e étnicos), são atualmente considerados "perigosos" ao convívio social democrático.

Com isso, a impresa e o jornalismo, precisam rever seus conceitos e a forma de atuação. É isso que Le Comité des Sages, composto por 11 jornalistas tem feito. Fazem parte desse comitê, figuras "ilustres" do  jornalismo francês: Marie-Laure Augry, Master Basile Ader, Alain Boulonne, Jerome Bouvier, Jean-Pierre Caffin, Olivier da Lage, Jean-Marie Dupont, Bruno Frappat Pascal Guenée, CatherineVincent Lorenzo Virgili.

O projeto francês do novo código de ética do jornalista, é bem curto. Compõe-se de apenas 4 temas e 15 artigos: 1. O Metier do Jornalista; 2. A recolha e o tratamento das informações; 3. A proteção da Lei às pessoas e, 4. A independência do jornalista. Apesar de bastante reduzido, ele estabelece bases amplas para a compreensão do fazer jornalístico.

O projeto de código tem algumas definições claras de atuação. Por exemplo, no artigo  1.2, deixa-se claro que o jornalista, quando atuar em uma editoria, com chefe definido e linha editorial clara, deve atuar conforme as regras definidas pela agência. Já no artigo 1.4, aponta-se para a liberdade do jornalista de veicular notícias, mas alerta o "jornalista deve sempre estar ciente das conseqüências, positivas ou negativas, das informações que divulga".

No artigo 2.2 atesta-se para a importância da "análise com rigor e vigilância, de informações críticas, documentos, imagens ou sons que lhe chegaram". É interessante que, mesmo em tempos de velocidade da informação, o código alerte para a importância de "não dispensar uma verificação prévia da credibilidade das fontes" e ser "sensível a críticas e sugestões do público".

No artigo 4.2, achei algo bem interessante e, que não poderia ser diferente. O artigo diz: "O jornalista não confunde seu trabalho com o oficial de polícia ou juiz. Não se trata de um oficial de inteligência. Ele nega qualquer confusão entre informação e promoção ou publicidade".

É, o novo código francês avança em algumas questões importantes. Agora resta saber, mesmo estando em lei própria, se os jornalistas conseguirão atuar nos moldes estabelecidos. Não por que eles sejam difíceis de serem atingidos, mas pela dificuldade de se definirem quais patamares discursivos servirão de base, para as decisões.

Leia o projeto do Código de Ética francês aqui.


Jornalismo, mudanças e crise

Postado por Gilson Pôrto Jr. às 10:54 0 Comments

Na quinta-feira, dia 29.10.2009, Miriam Leitão entrevistou o jornalista Rosental Calmon Alves, que é professor de jornalismo na University of Texas at Austin e diretor do Knight Center for Journalism in the Americas.


O centro da conversa foi sobre a comunicação e como as empresas podem lidar com o mundo digital. Entre os destaques da entrevista estão as competências formativas, o diploma e a crise do modelo de negócios nos Estados Unidos. Esses são elementos importantes que já discutimos no Blog do Gipo. Assista a entrevista a seguir.




Paul Bradshaw, diretor do curso de jornalismo da Birmingham City University, no Reino Unido, escreveu uma reflexão bem interessante sobre a formação em jornalismo. O artigo escrito para o Online Journalism Blog intitulado Are there too many journalism courses?, apresentou uma série de competências necessárias para a formação do profissional que atua em jornalismo.

Segundo Bradshaw, a diversidade de graus possíveis para a formação em "jornalismo não existem apenas para treinar as pessoas para entrar na indústria de notícias. Esta é a diferença entre "educação" e "formação" " e, indicou um conjunto de competências/habilidades que são desenvolvidas durante esse percurso:
* Construção do núcleo de competências acadêmicas, como a investigação, o conhecimento conceitual e as habilidades críticas;
* Desenvolver habilidades práticas, tais como a comunicação, pesquisa e produção;
* Desenvolver habilidades criativas;
* Desenvolver habilidades de gerenciamento de projetos;
* Desenvolver habilidades de trabalho em equipe e a capacidade de trabalho por iniciativa;
* Criar uma compreensão crítica dos processos de notícias e relações de poder;
* Fornecer espaço para explorar como o jornalismo ea  publicação é, e poderia ser diferente, (particularmente importante quando se está em crise);
* Permitir que as pessoas saibam se eles querem trabalhar na indústria de notícias;
* Permitir que os estudantes compreendam que conseguirão uma graduação em uma área que é  desafiadora e gratificante;
* E sim, a formação de pessoas para entrar na indústria de notícias;
* E qualquer indústria que envolve profissionais da comunicação;
 Será a formação universitária a chave para o sucesso profissional? Bradshaw afirma que, apesar de todos estudarem jornalismo, nem todos que tem "esperança de ser", serão, por exemplo, âncoras ou titulares de editoria em grandes jornais (já que essas posições já encontram-se ocupadas), mas é extremamente importante essa formação.  Porquê? Ele afirma:
Algumas pessoas não são muito boas, algumas pessoas não se esforçam muito, algumas pessoas apenas se "encostam" ao longo do caminho,  na lei do menor esforço - não se pode conceber que, em nosso sistema de ensino, sem excluir aqueles que trabalham duro, que são talentosos e dedicado e querem conseguir grandes coisas. Um diploma não é a promessa de uma carreira bonita - é a promessa de uma oportunidade de desenvolvimento pessoal, que  é embasado em seu próprio compromisso e capacidade individuais, tanto quanto a dos professores,  do pessoal de apoio e das universidades.
É, está aqui uma visão bem sóbria da formação universitária! Ela permite "uma oportunidade de desenvolvimento pessoal", que agregada as competências e habilidades, desenvolvidas ao longo do curso, podem dar valor ao conhecimento adquirido durante todo o processo e permitir uma melhor inserção profissional.


O Projeto Pew Research Center for Excellence in Journalism divulgou os resultados de sua pesquisa  - The State of News Media - sobre a mídia americana em 2008/2009. A pesquisa é desenvolvida desde 2004, permitindo uma série estatística dos indicadores, sendo financiada pelo Pew Charitable Trusts.

A pesquisa utiliza métodos empíricos para avaliar e estudar o comportamento da imprensa. Segundo a organização, o objetivo da realização das pesquisas na área jornalística:
[...] é ajudar os jornalistas que produzem as notícias e, os cidadãos que a consomem a desenvolver uma melhor compreensão do que a imprensa está entregando, como os meios de comunicação estão mudando, e as forças que estão moldando essas mudanças. Temos enfatizado a pesquisa empírica na crença de que, quantificar o que está ocorrendo na imprensa, em vez de simplesmente oferecer a crítica, é a melhor abordagem para a compreensão.
O que os dados de 2009 revelam? Novamente o que outros estudos tem apontado: uma crise generalizada no atual modelo de negócios da mídia. Segundo Tom Rosenstiel, jornalista que assina a pesquisa e coordena o projeto, os resultados "parecem assustadores", pois
"as receitas de publicidade em jornais caíram 23% nos últimos dois anos. Alguns jornais estão em processo de falência e outros perderam 75% de seu valor. Estimamos que, cerca de um em cada cinco jornalistas, que trabalhavam em jornais, em 2001, não estavam mais nesse mercado no final de 2008 e 2009. [...] Ocorre uma migração acelerada do público para a Internet. O número de americanos que utilizam regularmente a Internet para acesso à notícias, de acordo com um levantamento, aumentou 19% nos últimos dois anos, sendo que em 2008, o tráfego para sites de notícias importantes aumentou 27%;
Apesar da sobrevida que as eleições americanas proporcionaram ao jornalismo impresso, a pesquisa foi enfática:
No ano passado, aconteceram duas coisas importantes que, efetivamente, reduziram o tempo restante no 'relógio'. Em primeiro lugar, a migração acelerada da audiência para a Web, significando que a indústria da notícia deve se reinventar, mais cedo do que pensávamos, embora a maioria dessas pessoas estejam visitando os destinos tradicionais de notícias na web. Pelo menos, no curto prazo, o crescimento da audiência online tem piorado e não ajuda a situação de sites de notícias tradicionais.
Depois, veio o colapso da economia. Os números são apenas suposições, mas os executivos acreditam que a recessão, pelo menos, ocasionará o dobro de perdas de receitas no setor de mídia imprensa em 2008, e talvez ainda mais sobre as redes de televisão. Ainda mais importante, é o fato de que a recessão afetou os esforços para encontrar novas fontes de receita. Em uma tentativa de reinventar o negócio, 2008 parece ter sido um ano perdido e, 2009 ameaça ser a mesma coisa.

Alguns outros dados da pesquisa ajudam a visualizar o tamanho da crise:

1. Variação percentual da audiência de 2007 a 2008, por setores da mídia.

 

2. Variação percentual da receita de anúncios de 2007 a 2008, por setores da mídia.

3. Declínio percentual de circulação durante seis meses, período de 2003-2008.


4.  Edições impressas vs. Receita de publicidade online no período 2003-2007.

5. Visitantes únicos por mês para sites selecionados de revistas (Novembro de 2006, novembro de 2007 e novembro 2008).

Longe de assustar, eles representam a migração para uma novo modelo, que ainda é "nascedouro", mas que dá sinais de força. Vamos esperar para ver os resultados. O relatório está disponível completo em inglês e, um resumo executivo, em espanhol.


Quando se usa a palavra ecossistema, dificilmente pensamos em algo que não seja a natureza, florestas e árvores. Nos acostumamos a utilizar essa palavra com esse significado. Porém, ela já ganha contornos diferenciados que modifica o significado.

Steven Johnson propõe a utilização dessa palavra voltada para o jornalismo. Ele defende que o espaço da notícia é como um verdadeiro ecossistema. Isso se dá pela diversificação, complexidade e interligação presente no espaço de criação da notícia. Se pensarmos bem, faz muito sentido, já que as interligações (links, feeds, etc.) presentes na internet, são quase infinitas. E aí, é bom fazermos uma ressalva: entendemos que a "infinitude" da internet é ainda um conceito abstrato, que consolida-se, na medida em que, a tecnologia de armazenamento permite espaços nunca antes imaginados. A internet, comparada a um "cérebro virtual" está consolidando sua rede neural, suas conexões sinápticas.

Para Johnson, o mais importante "não é futuro da indústria da notícia, ou o negócio do jornal impresso, mas o futuro da notícia em si". Por que essa preocupação? Basicamente, por causa dos discursos "truncados" quando falamos em futuro do jornalismo, que beira muitas vezes à falácia. Para o autor,
[...] há realmente dois cenários piores que nos preocupam agora, e é importante distinguir entre eles. Primeiro, há o pânico de que os jornais vão desaparecer como empresas. E, depois, há o pânico de que as informações cruciais vão desaparecer com eles, que nós vamos sofrer culturalmente, porque os jornais não serão, por muito tempo, capazes de gerar as informações que temos invocado por tantos anos.
A angústia de não saber que rumo tomar, ou antes, a agonia de tentar sobreviver, face à crise, tem levado empresas jornalísticas a atacar os blogs e as redes sociais. Esses se tornaram os "vilões", os emissários  e 'culpados' pela crise do modelo jornalístico. Essa ingênua falácia, cria preconceito. O preconceito tenta desacreditar. Vimos isso recentemente no Brasil, pela campanha do Estadão contra os blogueiros. Longe de ter bons resultados, ampliou apenas o abismo de colaboração.

Nesse ecossistema jornalístico, os blogs já ganharam espaço. A era do papel e do jornal impresso ainda não acabou, mas os sinais de desgaste são evidentes. Como ressalta o autor:
[...] o novo ecossistema do jornalismo de investigação está em sua infância. Existem dezenas de projetos interessantes sendo encabeçados por pessoas muito inteligentes, algumas delas sem fins lucrativos,  outras para alguns fins lucrativos. Mas elas são mudas.
Mudas? Embriões do quê? De um novo modelo de jornalismo. Um jornalismo híbrido, em que participam empresas jornalísticas, fundações sem fins lucrativos e blogueiros empreendedores. Esse é o novo modelo, ou pelo menos, é o que aparenta para Johnson. Ele afirma que esse ecossistema se parecerá com a figura a seguir:



Nesse ecossistema jornalístico, a produção de notícias não será exclusiva dos jornalistas, mas será o resultado de uma mescla de novos atores no espaço noticioso. É interessante a presença de um processo partilhado de edição (curadoria), onde haveria a presença de editores profissionais, mas não exclusivamente.

Comentando sobre essa proposta de Johnson, de um ecossistema jornalístico híbrido, Tim Kastelle escreveu no blog Innovation Leandership Network afirmou:

Parte da inovação, que nós estamos procurando, é como podemos criar uma combinação dessas funções em um único modelo, que vai ter alguma combinação de conteúdo livre, junto com um mecanismo de geração de renda. Porque eu continuo dizendo, em geral, as funções que parecem fazer o dinheiro ,neste tipo de sistemas, são agregação e filtragem - por isso, eu ainda acho, que o caminho para construir um modelo desse tipo de negócio é incluir uma ou ambas as funções.
 Já para Mindy McAdams, jornalista que atua na área de ensino, o gráfico de Johnson,
[...]  tenta representar o ambiente de notícia como ela é agora, sem se inclinar em direção a um modelo idealista, que não corresponde à realidade. O que eu não concordo é, com as setas de um caminho  único - tudo neste modelo tem fluxos em dois sentidos agora.
Seja qual for o futuro, com ou sem empresas jornalísticas (arrisco a dizer que elas existirão em outros formatos), com ou sem papel, algo é certo: a internet será um dos atores mais importantes nessa construção da notícia, assim como o é nesse começo de século XXI.


Pedro Fonseca, do blog português ContraFactos & Argumentos, disponibilizou algumas estatísticas sobre os jornais nos Estados Unidos, que dão muito em que pensar. Eles reforçam a idéia de crise que se alastra entre os jornais impressos. Mas ao mesmo tempo, já registram o que estamos cansados de saber: a internet cresce rapidamente e ganha o espaço da preferência dos leitores e neoleitores.  Bem, vamos aos dados.

A primeira informação, é descrita no gráfico a seguir, que mostra a situação de grandes jornais nos Estados Unidos. Por exemplo, o The Wall Street Journal, saiu da casa dos 1.8 milhões de jornais em 1995 para um pouco mais de 2 milhões de jornais em 2003. Porém, desde então, vem ocorrendo uma baixa na tiragem. Já outros jornais, como o The New York Times, The Washington Post, The Daily News e The New York Post, vem amargando quedas significativas em sua circulação na última década. Veja com mais detalhes no gráfico (clique para aumentar).



Fonte: The AWL - A Graphic History of Newspaper Circulation Over the Last Two Decades

A segunda informação, está expressa na tabela a seguir, que demonstra os gastos com publicidade na mídia americana. Os dados revelam uma retração no investimento publicitário na mídia. Praticamente, todas as formas de publicidade tiveram um resultado menor do que o esperado, desde 2008. Obviamente, a internet escapa do negativo, mais amargou também uma redução significativa na publicidade. Veja com mais detalhes na tabela (clique para aumentar).


Fonte: The Business Insider, US Advertising Spending, By Medium

A terceira informação, está expressa no gráfico e na tabela a seguir, que mostra o "Top 10" de sítios na internet, que abarcam os investimentos publicitários. Na frente, o Google vêm assumindo a maior fatia do mercado, seguindo bem de longe pelo Yahoo!, MSN e eBay. Veja com mais detalhes o gráfico e a tabela (clique para aumentar).



 



Vou fugir ao que normalmente faço no blog. Não vou falar sobre jornalismo, jornais e ensino. Mas vou compartilhar com os amigos alguns "achados" da rede, que vale gastar cada minuto com atenção. Não por que eles sejam a "décima maravilha do mundo", mas por causa da criatividade e da simplicidade da produção.

O primeiro vídeo, foi uma dica do Nuno Costa, do Blog O Melhor e o Pior. Trata-se de uma peça publicitária, para a qual a Olympus tirou mais 60 mil fotos, selecionou 9.600 delas e usou 1.800 para fazer o filme. Vale cada minuto de atenção.



O segundo, foi dirigido por Oren Lavie, Yuval e  Merav Nathan, com produção de Shir Shomron e fotografia de Eyal Landesman, intitulado "Her Morning Elegance".




Dados estatísticos sempre colaboram com a reflexão dos rumos que serão tomados. Na situação dos jornais no Brasil não é diferente. A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) disponibilizou dados sobre os jornais brasileiros.

Esses dados podem ajudar a vislumbrar a situação que passa o modelo atual de negócios no Brasil da indústria jornalística. Vale ressaltar, que a presença da internet vem crescendo ano a ano, modificando relações e espaços.

Também é interessante que, na tabela 1 - circulação média diárias de jornais, podemos observar os "picos" negativos, começando em 1994, depois em 1996 e 2001 a 2003, com uma pequena recuparação após esse período. Mesmo com essas variações negativas, se vê que a tiragem média diária desde 2007 ultrapassa a marca dos 8 milhões de exemplares. Parece muito, mas comparando-se com os mais de 40 milhões de brasileiros economicamente ativos e, com os mais 80 milhões de brasileiros leitores, é muito pouco a inserção do jornal na vida do brasileiro. Veja a seguir outros dados do recorte:

(clique nas tabelas para aumentar a visualização)











Essa é uma boa questão: será o jornalismo cidadão uma alternativa para superar a crise dos meios? Para poder entender melhor, precisaremos dividir essa questão em outras duas: "o que é jornalismo cidadão?" e, "que crise dos meios ocorre?".

Vamos a primeira questão: o que é jornalismo cidadão? Basicamente é a forma de produção da notícia em que a estruturação do conteúdo é realizada em parceria com pessoas sem formação jornalística e um profissional da área. Essa construção "colaborativa" , que obviamente padece de problemas de forma e estilo, não perde, na maioria dos casos, em consistência e fidedignidade factual, já que ele é registrado pelo espectador original.

Cabe aqui uma ressalva: o registro é, e sempre será, um recorte do "real", consistindo em uma realidade própria do olhar do sujeito. O observador original constrói seu olhar, registrando os fatos que lhe parecem ser os mais importantes, mais significativos, isto é, sua "realidade". Em muitos casos, a realidade do espectador não é a mesma do jornalista, que fará o ajuste na notícia, afim de garantir a noticiabilidade do fato. Esses "ajustes", que podem ir desde a forma e o estilo e, que pode chegar até ao factível, faz a riqueza desse tipo de jornalismo, construído "a quatro mãos" ou, como alguns chamam, em rede.

Será esse tipo de jornalismo viável? As experiências mostram que sim. Por exemplo, David Watts Barton, editor chefe do Sacramento Press Journalism Open, abriu um concurso em que os cidadãos participam produzindo notícias. A idéia é que os participantes, cidadãos em geral da região de abrangência do jornal, possam "cometer atos de jornalismo", registrando acontecimentos.

Outro jornal, o The Guardian, do Reino Unido, criou o "Guardian Local" com foco inicial em três cidades - Edimburgo (Escócia), Cardiff (País de Gales) e Leeds (Inglaterra). A proposta é que blogueiros e jornalistas cidadãos possam produzir notícias sobre corrupção das instituições a partir de 2010. Com isso, cria-se uma "vigilância" constante das instituições. Como participar? Os requisitos são bem práticos: não precisa ser jornalista diplomado ou com formação específica, mas é necessário ter um blog, ser usuário do Twitter, saber como estabelecer contato com a comunidade e sentir paixão pela informação local.

Ainda na Inglaterra, a Associated Northcliffe Digital, inicou uma campanha para a criação de 50 novos sítios hiperlocais. A aposta da entidade, sob o lema "Teu lugar, tua gente", é desenvolver em cidades com menos de 50 mil habitantes, um sistema local de notícias. Esse desenvolvimento local da mídia, permite também o desenvolvimento de novos anunciantes. Uma visita rápida ao sítio, mostra que a idéia está dando certo.

Nas "bandas de cá" das Américas, o The New York Times, criou o "The Local", onde os membros das comunidades locais de Nova York, Nova Jérsei, Long Island e Connecticut, podem produzir e divulgar suas notícias. O lema, bem interessante por sinal, é: "Sua cidade. Seu bairro, seu quarteirão. Coberto por e para você".  Em Palmas (Tocantins), temos um experiência bem interessante: é o Jornal A Boca do Povo, com o lema "Aqui você faz a notícia". A proposta, assim como outros periódicos produzidos, é a valorização da "presença do cidadão como autor dos textos e não apenas como fonte de informação".

A resposta a questão "será esse tipo de jornalismo viável?", é sim. Parece-me claro, que surge um modelo de negócio mais centrado no local e no potencial que esse tem de atrair novos anunciantes. Talvez aqui tenhamos uma saída para a crise dos meios. E já que tocamos nesse aspecto, "que crise dos meios ocorre?". Em outros posts, indicamos que o jornalismo tradicional, baseado no modelo de negócios atual, com seu sistema de tiragem e assinaturas, encontra-se em crise. Essa crise, não constitui-se apenas na produção e impressão da notícia, mas vai pelo esgotamento que o modelo pago e a própria distribuição apresentam, face aos movimentos de notícia "free".

Há saída para a crise? É claro que sim. Toda crise, pressupõe uma mudança de paradigma e, nesse sentido, o esgotamento do modelo de negócios atual dos jornais, que afeta a própria forma de fazer jornalismo e de atuação de seus profissionais, pode encontrar um "fôlego" nas experiências do jornalismo cidadão. É cedo para afirmar, que o jornalismo cidadão é a solução mais viável, mas já dá para vislumbrar uma "luz" no meio dessa tumultuada escuridão, que parece afetar todos os jornais.


Foi assim que Tom Grubisich, editor sênior do Banco Mundial em Washington, DC, escreveu para o The Online Journalism Review, sobre o Relatório "A Reconstrução do jornalismo americano", de Leonard Downie Jr. e Michael Schudson, publicado essa semana e que vem causando criticas no meio jornalístico.

Para Grubisich, o relatório é mais um " exemplo do que o que há de errado com o debate sobre o futuro do jornalismo. [...] O relatório, patrocinado pela Columbia Journalism School, destaca sínteses, conclusões e recomendações da peso, mas com valor de algumas gramas de pensamento crítico".

Mas o que há de tão controverso nesse relatório? Bem, ele aponta o problema, citando Jan Schaffer, que é diretor executivo da American University's J-Lab: The Institute for Interactive Journalism e ganhador de um prêmio Pulitzer:
Se realmente queremos reconstruir o jornalismo americano, precisamos olhar mais do que o lado da oferta, temos necessidade de explorar o lado da procura, também. Temos de começar a prestar atenção à trilha de pistas no ecossistema dos novos meios de comunicação e seguir o 'pão'. Que indústria  não teria dificuldade de corrigir-se pensando somente em "nós", os fornecedores de notícias, e não 'neles', os consumidores de notícias? Eu não ouço a qualquer desses consumidores neste relatório.
É claro que o relatório tem sua importância. Já o discutimos aqui em outro post. Mas, ele é o olhar de apenas um lugar comum: o dos fornecedores de notícias. E, para Grubisich, foi esse o pecado de Downie Jr. e Schudson, deixarem de indagar-se com o olhar do outro, de perguntar o porquê, testar hipóteses e indicar recomendações apropriadas.

Essas observações feitas, reforçam o que já é realidade: a retórica e argumentos bem feitos sobre a crise do jornalismo, mas que não tenham uma visão do problema como um todo, e não apenas de suas partes (no caso, de uma única parte), será alvo de críticas, apesar de toda elegância que possa ter.


Quem já não ficou com a mão cansada de tanto clicar na internet? Quase todos que a utilizam diariamente, padecem desse sofrimento.  São centenas e, as vezes, milhares de clics. Mas parece que temos uma "luz no fim do túnel".

É que Andreas Lutz, músico e designer suíço, inovou em seu sítio: aboliu a clicagem e, instituiu uma interface completamente audiovisual. Com o uso de uma webcam e um microfone, é possível acessar todo o material disponível no sítio.

Apesar de estar disponível no mercado tecnologias com interface táctil, a  proposta de Lutz é a utilização apenas de gestos e sons, sem toques na tela. Será esse o 'princípio do fim' para o mouse? Vamos esperar para ver o que reserva o futuro.

Vale a pena conferir. A seguir, disponibilizo a vídeo que dá uma idéia do que você encontrará no percurso. Testei no final do dia e os resultados são promissores. A dica foi dada pelo blog Periodistas21.

Realidade aumentada e empresas

Postado por Gilson Pôrto Jr. às 14:51 0 Comments

A realidade aumentada já está ficando comum. É claro, que a grande maioria das pessoas, não a utilizam ainda no seu trato diário. Porém, com o desenvolvimento de novos ambientes virtuais e a melhoria do acesso a tecnologia, as empresas e a própria propaganda muito se beneficia com o uso da realidade aumentada.

A seguir, alguns vídeos que encontrei na rede sobre a apropriação da empresas da tecnologia:

Vídeo 1: Cerveja canadense Molson Dry


Vídeo 2: Empresa USPS, especializada em logistica e entrega de mercadorias. O cliente escolhe a caixa que melhor se adapta a sua necessidade.


Vídeo 3: Zugara é um shopping online que permite ao cliente "experimentar" a roupa que mais lhe agrada.


Vídeo 4: BRADESCO - demo do aplicativo "Presença" para clientes do banco.



Desde cedo na formação dos jornalistas, a palavra "objetividade" torna-se parte do seu vocabulário central. Espera-se, que essa competência, seja "ensinada" e desenvolvida durante todo o processo formativo. Mas o que é essa objetividade? Defende-se (e, com isso, esforçamo-nos a ensinar), que o trabalho do jornalista deve ser isento, neutro, como condição de legitimidade da prática jornalística.

Que habilidades são exigidas nesse processo de objetividade? Podemos indicar algumas: uma linguagem simplificada, a construção em terceira pessoa do texto, imparcialidade e um registro fidedigno dos diálogos. Essas habilidades, permitem ao jornalista, a realização de um recorte do "real", construindo a sua "realidade", que posteriormente, é partilhada com os leitores. Esses, por sua vez, exercitam sua própria leitura.

Temos nisso um problema: a objetividade repousa sobre a linguagem. De um lado, temos o jornalista, que constrói seu olhar sobre o fato e, do outro lado, temos o leitor que interage com o texto e, nessa tecitura, cria, transforma, destrói e reconstrói sua(s) leitura(s). Essa leitura (que não é mais "a leitura"), desenvolve-se em "maneiras de ler" o mundo a nossa volta. O sujeito - quer o falante, quer o leitor - lança seu olhar, que de nenhuma forma consegue ser neutro. A leitura do signo é sempre ímpar e, a ação compreensiva, uma experiência única, que teimamos em achar que pode ser reproduzida, ipsis literis, de um leitor a outro.

Vamos agregar mais um ingrediente: a presença do editor. Esse tem um papel de intermediar o processo de construção da informação. Na verdade, esse pré-leitor qualificado, exerce o papel de consolidar o "pacto de leitura", que a área da comunicação tem com as demais áreas do conhecimento. Espera-se, que a notícia produzida, atenda ao critério da objetividade para ser publicada/veiculada.

E aqui o "caldo fica mais grosso", quando o editor faz o recorte na narração produzida, que obviamente não é e, dificilmente será, objetiva. O editor assume para si toda a carga ideológica, que faz parte do processo de escolha de qual tipo de escrita será ou não aceita.

E como está o panorama de atuação desse profissional? Craig Newmark, escreveu para o The Huffington Post, sobre a crise da "curadoria de notícias". No artigo intitulado A nerd's take on the future of news media, Newmark critica a atuação, ou melhor, a falta de atuação dessas "curadorias" no processo da notícia e, aproveita o espaço, para criticar a objetividade jornalística. Para ele, a objetividade que é praticada, por apenas se ouvir as partes e suas justificativas, não é um agregador de valor. Ao contrário, seria um motivo para  perda de credibilidade.

Será que ele vislumbra algum caminho para a ação jornalística no futuro? É claro que sim. Para ele, o futuro está na criação de modelos mais híbridos, com a presença de outros atores nesse processo de edição, onde a "transparência é a nova objetividade" e o "[...] futuro das organizações jornalísticas será determinado pelas tendências emergentes que já são visíveis".


Pesquisar na área da internet é sempre um desafio, assim como o é em outras tantas. áreas do conhecimento humano. Talvez, a internet o seja muito mais, pois novas tecnologias e técnicas são desenvolvidas em uma velocidade tal, que o pesquisador não consegue acompanhar. Produções e estudos, são disponibilizados, quase que instantaneamente. Isso já é uma realidade em muitas das áreas que pesquisamos atualmente.

Nesse aspecto, os repositórios institucionais tornaram-se uma ferramenta valiosa para o pesquisador. Os repositórios são sistemas que servem para armazenar, preservar, organizar e difundir os resultados de estudos e pesquisas.

Que dizer de estudar os próprios repositórios? A dica veio do Blog do Kuramoto. Ele indicou uma achado e tanto: o Institutional Repository Bibliography. A iniciativa é mantida por uma organização chamada Digital Scholarchip. Segundo Kuramoto:
Esta bibliografia apresenta mais de 620 documentos (artigos selecionados em língua inglesa, livros e outros textos-fonte acadêmicos) que são utilizados no entendimento de repositórios institucionais. Embora o tópico repositórios institucionais tenha intersecção com o acesso livre à comunicação científica, esta bibliografia se restringe trabalhos relacionais com respositórios institucionais.
[...] A maioria dos textos-fonte foram publicados entre 2000 e o presente momento. Um limitado número de fontes-chave publicados antes de 2000 foram incluídos. Sempre que possível, links são fornecidos para e-prints em arquivos temáticos (repositórios temáticos) e repositórios institutionais.
Está aí uma dica importante. Além da bibliografia sobre repositórios institucionais,  a Digital Scholarchip também apresenta indicações sobre weblog, open access, free e-books, dentre outras indicações importantes para pesquisadores da área. Vale conferir e mapear a dica.


Foi publicado pela Columbia University um estudo que analisa estratégias para a reconstrução do jornalismo nos Estados Unidos. O relatório intitulado  The Reconstruction of American Journalism é assinado por Michael Schudson, vice-presidente do The Washington Post e professor da Arizona State University e por Leonard Downie Jr, professor de jornalismo da Columbia University . A dica foi dada pelo Blog do GJOL.

O relatório expressa bem a situação de crise que os jornais passam, reconhecendo já de saída, que a base tradicional de manutenção econômica das edições, a publicidade, está em colapso. Para os autores do relatório, a crise de receitas não afeta apenas os jornais impressos, mas também os noticiários da televisão aberta. Mas, pelo menos, algo é positivo para eles: os jornais e os noticiários não vão desaparecer, mas serão reinventados pela evolução do mundo digital. Eles atribuem um papel duplo a internet: tornou possível novos espaços jornalísticos, mas prejudicou o apoio do mercado tradicional ao jornalismo impresso.

Como eles percebem a "saída" dessa constatação? Bem, eles fazem seis recomendações, no mínimo, bem polêmicas:
1. Controle do Congresso de organizações de notícias independentes, que deveriam ser criadas ou convertidas em entidades sem fins lucrativos ou com baixo lucro, para servir ao interesse público, independente de seu "mix financeiro", com patrocínio comercial e publicitário, permitindo explicitamemte o investimento de fundações filantrópicas nessas novas organizações híbridas;

2. Filântropos, fundações e fundações comunitárias devem aumentar substancialmente o seu apoio a organizações de notícias que têm demonstrado um compromisso substancial com os assuntos públicos e prestação de contas;

3. O público do rádio e da televisão devem ser substancialmente reorientados para fornecer informações importantes à imprensa local em cada comunidade, servidas por estações públicas e seus sites. Isso exige uma ação urgente e reforma da Corporation for Public Broadcasting, bem como um aumento do financiamento e do apoio do Congresso para a comunicação pública;

4. Universidades, tanto públicas como privadas, deverão tornar-se fontes locais de sujeitos especializados, além de notícias e prestação de contas, como parte de sua missão educacional. Elas devem explorar as suas próprias organizações jornalísticas, sendo plataformas de acolhimento de notícias sem fins lucrativos e de organizações de jornalismo investigativo e, ser laboratórios para a inovação digital na captação e partilha de notícias e informações.

5. Um fundo nacional de notícia deve ser criado com o dinheiro do Federal Communications Commission, que poderia ser coletado dos usuários de telecomunicações, televisão e de radiodifusão sonora licenciados ou prestadores de serviços de internet, administrados por conselhos locais de notícias.

6. Mais deve ser feito por jornalistas, organizações sem fins lucrativos e governos para aumentar a acessibilidade e a utilidade das informações coletadas pelo público em âmbito federal, estadual e local, facilitando a captação e difusão da informação pública por parte dos cidadãos, ampliando o reconhecimento público das muitas fontes.
É, as propostas são fora do "convencional", para um país capitalista. Retiram da mão de poucos o poder da informação e fragmenta em pequenas comunidades. Mas, a situação é muito mais complexa do que aparenta e, por mais que essas recomendações forneçam um caminho, vão enfrentar muitas críticas. De fato, mal o relatório tornou-se público, David Carr, William Carleton, Dan Gillmor e Jeff Jarvis, criticaram as posições assumidas. 


O Blog Novos Medios.org, destinado a estudos de jornalismo e comunicação, mantido pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), disponibilizou um resumo da palestra realizada por Manuel Castells.

Manuel Castells dispensa muitas apresentações. É professor de comunicação e tecnologia em inúmeras universidades européias, além de escritor de diversos livros nessas áreas. Na palestra realizada, Castells discutiu sobre a "universidade na era da informação" e, atribuiu a essa, o papel de "instituição central do mundo em que vivemos".

Segundo ele, a universidade teve seis funções ao longo da história, conforme citado pelo sítio:
1. A universidade que produz valores e legitimação social, própria da fase em que as escolas teológicas, centravam a atividade universitária;
2. Função de seleção de elites, através da educação e da configuração de sua rede social;
3. A universidade formadora de profissionais da própria universidade tecnológica;
4. Função de produção de conhecimento. Castells fala em universidade, científica, função tardia que começou a desenvolver-se na segunda metade do século XIX na Alemanha e, depois, importada pelos EUA no final desse mesmo século;
5. A universidade educadora de massas. A universidade generalista, que estende o direito à educação universitária a todas as pessoas. Os recursos, não crescem proporcionalmente às necessidades projetadas, pelo aumento de alunos. Trata-se, do que Castells, alcunhou como "café para todos, mas descafeinado".
6. Função empreendedora. A universidade empreendedora gere a ligação entre o mundo empresarial e da produção de conhecimento, que se desenvolve no seu seio. É a encarregada de traçar pontes de relacionamento para que o fluxo de conhecimentos, entre a universidade e a necessidade de desenvolvimento de aplicações e tecnologias da empresa privada seja contínuo, freqüente e de qualidade.
Poderia uma única universidade abarcar esse "universo" de possibilidades? Para Castells, não. A universidade deveria primar por algumas dessas funções, mas obrigatoriamente, "a excelência deve ser um dos primeiros fins da universidade, junto com a função de serviço público (que não implica, a exclusão das universidades privadas, que tenham também um boa trabalho de serviço ao público) e a necessidade de auto-constituir-se, como espaços com autonomia própria, para servir à sociedade num ambiente de liberdade", frisa o sítio.

Ao ler essa notícia e as perpesctivas de Castells, não pude deixar de lembrar das leituras que fiz sobre a Universidade, principalmente as propostas de Robert Paul Wolff (O ideal da universidade), Wladimir Kourganoff (A face oculta da universidade), Geraldo Moisés Martins (Universidade federativa autônoma e comunitária), Clark Kerr (Os usos da universidade) e Durmeval Trigueiro Mendes (Ensaios sobre educação e universidade). Em maior ou menor grau, as propostas de Castells passam pelo olhar e discussão desses autores, que frisam a importância da universidade como estrutura basilar de formação humanística e técnica do cidadão.


Essa é a discussão que Martin Conboy, professor da University of Sheffield, do Reino Unido, faz no artigo intitulado "A parachute of popularity for a commodity in freefall?". O artigo foi publicado no número especial de junho da revista Journalism, e trata da problemática "crise" que vive o jornalismo (e seus profissionais) nesse início de século.

Conboy parte da idéia de que o
[...] jornalismo é ameaçado por todos os lados na contemporaneidade. A reputação dos jornalistas continua a despencar e o jornalismo, parece ser incapaz de gerar interesse ativo, consistente, no processo político. [...] O principal motivo para preocupação, parece ser que, à luz do colapso das receitas de publicidade e  da fragmentação das audiências, impulsionado em parte pela introdução de novas tecnologias no campo da comunicação pública, o jornalismo está lutando  com o fim de um modelo de negócios.  O futuro do jornalismo depende, em grande medida, do que entendemos por  jornalismo.
Essa é uma constatação real: vivenciamos uma "crise", isto é, o modelo atual de negócios do jornalismo não responde mais as demandas impostas pelo mercado e, principalmente, pelos leitores. O papel dos jornais no processo de comunicação, como elemento central, já deixou há vários anos (melhor dizendo, décadas) de ser o que ele tensionava que ainda fosse. É claro que ainda há nichos muito fortes e tradicionais de leitores, mas os neoleitores atuais, já não creditam a força necessária para o modelo sobreviver.

E qual será esse futuro? Conboy defende que esse futuro passa pela redefinição do que é o jornalismo e de suas funções, sobretudo no papel desempenhado por alguns veículos que agem como verdadeiros "cães de guarda" de segmentos.

É interessante o reconhecimento por parte de Conboy, nesse artigo, da existência de "polaridades de espectro de jornalismo". O que vem a ser isso? É o que, em outros autores, conhecemos como nicho. Ele cita George Newnes, editor inglês, que escreveu em 1890, classificando dois modelos de jornais: "um que dirige as notícias para os assuntos das nações e, outro, não tão ambicioso, mas que, ano após ano,  leva diversão e entretenimento para as camadas de trabalhadores". E esse, parece ser, um problema para Conboy, já que o jornalismo (e seus profissionais), parecem querer apenas o "jornalismo que gera prêmios", o jornalismo dos grandes veículos, do reconhecimento nacional e internacional e, bem poucos, fazem um jornalismo cultural para as massas.

E onde entra a idéia de "queda livre" anunciada por ele? Justamente na noção de crise. Para ele, a crise no jornalismo, é uma "tentativa tardia de chegar a termos em questões que tem permeado outras construções culturais e políticas ao logo dos últimos 20 anos ou mais".  Outras áreas do conhecimento, já vivenciam essa indefinição epistemológica desde o início dos anos 1970, estando a comunicação "em crise", com a chegada do novo modelo midiático com interface virtual, na década de 1990.

Mais do que uma mercadoria que é comprada e vendida a um preço determinado, mais do que notícias que atendam um nicho privilegiado e dominante, o jornalismo (e seus profissionais), tem um responsabilidade social, que deve ser encarada como estratégia de mobilização democrática. Daí, nessa concepção, Conboy afirmar que, blogs e redes sociais, são um caminho inevitável no futuro do jornalismo. É dentro desse "ecossistema midiático", com suas experiências e vivências múltiplas, que os profissionais do futuro serão formados (ou deformados, dependendo do contexto!).


Já fiz diversos posts sobre a WWF (WWF: campanhas de preservação, Água: campanhas WWF, WWF e o 11 de setembro e, WWF:campanha "faça a diferença" ). Todas apontando os impactos em maior ou menor grau da degradação do homem ao ambiente em que vivemos e ao planeta, com reflexos imediatos e outros, a longo prazo.

A WWF dispensa apresentações, sendo uma das mais atuantes entidades de preservação ambiental. Já que estamos no Blog Action Day, vale a pena rememorar algumas dessas campanhas promovidas pela entidade para tentar "fazer a cabeça" dos mais duros corações capitalistas.


Campanha: You can Help




Campanha: You can't afford to be slow in a emergency. Act now for the planet.



Campanha: Give a hand to wildlife (produzida pela agência Saatchi & Saatchi Simko de Genebra)




 Campanha: Nature can't be recycled



Fonte: WWF, The design Inspiration.

Ambiente, preservação e....

Postado por Gilson Pôrto Jr. às 14:50 1 Comment


Qual o custo da preservação? Essa é uma questão complexa, já que nosso olhar sempre é sobre o custo da degradação. Vamos tentar olhar diferente. Voltemos a pergunta: Qual o custo da preservação? Arrisco a dizer, que se mensura esse custo em termos de saúde, educação, florestas e sobrevivência do homem, dentre outras possibilidades.

Na década de 1960, quando praticamente ninguém falava no custo da educação como um "valor de agregação" para a sociedade, Theodore W. Schultz, publicava seu livro "The economic value of education", que chegou aqui no Brasil, quase no final da década com o título "O valor econômico da educação". Nesse livro, Schultz apontava que o mais grave dos problemas nos países subdesenvolvidos era o analfabetismo crônico.Ele defendia que a educação é o "maior investimento humano" e que, as habilidades agregadas são um tipo de capital, devendo necessariamente o "homem investir no próprio homem".

Passadas mais de quatro décadas, a educação é vista como investimento (e bem poucos dizem o contrário), porém mais do que educar, no início desse século XXI, precisamos pensar como a educação nos ajudará a preservar o próprio homem do destino que ele parece procurar: a desintegração de seus valores e do resto de sua humanidade.

Crescemos economicamente muito, falando do ponto de vista dos grandes países. Qual o custo? Olhando para o planeta, ao custo das águas, das florestas, dos animais e, pensando bem, ao custo do próprio homem e de sua dignidade. Estudos dizem que em uma década, o clima terá uma "cartografia" diferente. Isso já acontece em Palmas (TO). Com apenas 7 anos nesta cidade, já vi as mudanças climáticas das mais variadas: extrema seca, ventos tempestivos e chuvas torrenciais. Nesse ano, fomos invadidos por milhares de pequenas mariposas, que nunca tinham aparecido na região. Ninguém sabe ao certo de onde e nem por que elas surgiram. Mas todos concordam: o desequilíbrio ecológico nessa região é grande, fazendo o futuro ser incerto.

E aí, qual é afinal, o custo da preservação? Hoje entendemos que é o custo do progresso que possuímos. O homem, como civilização, não quer abrir mão de certas comodidades existentes. Também, não sabemos ao certo, se há tempo para retroceder e salvar o planeta de nós mesmos. Seja qual for o futuro que nos aguarda, é muito confortador saber, que alguém trabalha por ele.

Preservação, desmatamento e ação

Postado por Gilson Pôrto Jr. às 08:53 0 Comments


Nas últimas duas décadas, a discussão das questões ambientais tornou-se mais intensa, sobretudo pelo surgimento e consolidação de entidades ativistas, tais como WWF, Greenpeace, Oxfam, dentre outras. É inegável que, boa parte do "barulho" ouvido, seja resultado desse trabalho sistemático e, menos da consciência cidadã e humanitária dos países.


Com maior ou menor repercussão na mídia, essas entidades e as campanhas desenvolvidas, apontam para os impactos no ambiente, do progresso que vivenciamos. É o "preço" do progresso. E, parece, que esse preço está sendo mais caro do que imaginamos. Ontem foi publicado na Folha de São Paulo, uma pesquisa realizada pela Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), que aponta para o desmatamento na região amazônica.

Segundo a reportagem,

Os dados divulgados pela ONG indicam aumento de 167% na área desmatada, na comparação entre agosto deste ano com o mesmo mês de 2008. Imagens de satélite detectaram que 273 km2 de floresta foram derrubados. Em agosto de 2008, o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) indicou que essa área correspondeu a 102 km2. Segundo o instituto, cerca de 46% desses 273 km 2 podem ter sido desmatados antes. Isso porque, em meses anteriores, parte das regiões estava encoberta por nuvens, e não pôde ser observada.

Ainda apontado pela reportagem, "o maior desmatamento é resultado do programa Terra Legal, que está dando a posseiros títulos de terra públicas na Amazônia". Quem são os primeiros nesse "ranking" da destruição? O Estado do Pará lidera com aproximadamente 76% da derrubada da mata em agosto, seguindo por Mato Grosso (8%), Amazonas (6%), Rondônia (5%) Acre e Amapá (ambos com 2%) e Roraima (1%).

Adalberto Veríssimo, pesquisador da ONG e citado na reportagem, aponta que cerca de metade do desmatamento ocorre em área mantida pela União. É, segundo ele, como "assaltar a delegacia", já que o próprio governo deixa a desejar, nessa situação específica. Todo esse desmatamento tem impactado no clima da região e gerado degradação ambiental.

Essa constatação não é nova. Em março último, tivemos o resultado da auditoria feita pelo governo federal, que comprovou que nos assentamentos do INCRA, houve desmatamentos de mais de 300 mil hectares de floresta amazônica.  Veja a seguir a reportagem sobre a situação do desmatamento divulgado na auditoria.