O Anima Mundi, em cada edição, tem superado as expectativas, não apenas numéricas, mas, principalmente, qualitativas. Os filmes da mostra principal e das categorias web e celular estão muito atraentes e com mensagens abrangentes.
Retomando o que havia dito anteriormente em outro post (e fazendo propaganda dos curtas), já escolhi dois filmes interessantes, que estão na onda "ecológica": o primeiro é o filme Cidadão de Papelão, de Ivan Mota que retrata "onde o carroceiro que recolhe sucata nas ruas se encaixa em nossa sociedade?" e, o segundo, Gota de Chuva, de Fernando Corvisier de Abreu, mostra um jovem Yanomami e um mico-leão dourado tentando entender a destruição da floresta amazônica pelo homem branco.
Assim como em anos anteriores, o Anima Mundi 2009 vai dar o que falar. Foi assim com a edição passada. Tomemos o caso do vencedor de 2008, o curta L'Animateur (The Animator). Esse curta gerou bastante polêmica, principalmente entre os religiosos mais radicais e/ou menos esclarecidos. Veja o vídeo:




Não quero retomar os embates que foram feitos de que houve ridicularização da figura divina com o vídeo, mas pensar um pouco na irreverência francesa dessa produção. Não é de hoje que, marcadamente nesse canto europeu, a irreverência surgiu. Ao assistir ao vídeo lembrei de François Rabelais, sacerdote francês do século XVI, que ficou marcado pela peças irreverentes que escreveu em seu tempo. Rabelais partiu da imaginação popular, própria do espírito medievo, da estrutura narrativa existente em seu tempo e da própria riqueza vocabular para "popularizar" problemas mais decadentes do seu tempo, como a vivência religiosa, a justiça ou as guerras.

Um dos livros que li sobre ele foi produzido por Mikhail Bakhtin intitulado "A Cultura popular na Idade Media e no Renascimento: o contexto de François Rabelais". Lembro-me que, no primeiro contato, causou-me estranheza a linguagem "meio" tola (para não dizer decadente), utilizada por Rabelais. Depois de ler o livro e discutir com colegas de faculdade do curso de História (com especialização em história medieval), compreendi que "essa marca" era uma forma de aproximação do sacro com o populesco, do puro com o impuro, do intocavelmente sagrado com o mundano ou em palavras mais pedagógicas: uma forma de fazer o povão entender o que a cultura dominante queria dizer.

Por que essa volta? Por que penso que o caso do filme L'Animateur (The Animator) possa ser visto nesse sentido: uma forma de aproximar uma temática complexa e cheia de disputas dogmáticas sobre "quem?", "quando?", "como?", em simplesmente, "foi feito", independente de "quem?", "quando?" e, mais complexo, "por que?" (deixo aqui para os colegas da filosofia continuarem a conversa...)

Quanto aos trajes e adereços utilizados pelo(s) autor(es) do curta, deixo a liberdade desses alçar vôo. Não diminui o que acredito e nem o que foi produzido.

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