Revolução em Angicos? É, foi essa a palavra utilizada na época para descrever o que estava acontecendo na pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte. Essa revolução "de verdade, séria e bem organizada" foi realizada por um educador chamado Paulo Freire.

Paulo Freire elaborou uma proposta de alfabetização de adultos conscientizadora, encarando o educando como sujeito da aprendizagem. Propunha uma ação educativa que valorizasse a cultura dos alfabetizandos como ponto de partida para tomada de consciência de sua importância como sujeito histórico.

Essa revolução foi registrada visualmente por meio de um vídeo produzido em 1943 conhecido como "As Quarenta Horas de Angicos". Ele está disponível no Portal dos Fóruns EJA e reproduzimos a seguir, em duas partes, seguido de alguns pensamentos sobre Freire:
Parte 1


Parte 2


Esse método ficou conhecido como método Paulo Freire (apesar de em diversos momentos ele mesmo falar que não é um método). O espaço educativo proposto por Paulo Freire era mediado pelo diálogo entre educandos e a realidade, entre educandos e educandos e entre educandos e educadores por meio dos círculos de debates. Veja como ele foi avaliado por Osmar Fávero - Universidade Federal Fluminense - UFF:



O papel atribuído ao professor/educador era o de dinamizar o debate e organizar os dados, mapear os problemas, as situações-limites e, coletivamente, retirar os temas-geradores. O tema gerador é discutido e problematizado, parte-se do conhecimento que os educandos têm em sua vivência, agrega-se uma visão crítica da realidade, com o fim de transformá-la.

A Revolução de Angicos, iniciada por Paulo Freire tencionou mais: seu sonho, que se tornou realidade, transformou e transforma a vida de milhares de pessoas que tomam consciência de si. Com “tijolos“, “enxadas“, “campos“ e “sofrimento“, entre dezenas de palavras do universo temático dos trabalhadores expropriados de sua própria consciência, Freire abriu espaço para a renovação e a liberdade da opressão. Desbancou, por meio de sua revolução com o lápis, as elites e séculos de dominação do outro.

Superou, com seu método, a “morte em vida dos oprimidos [e ensinou-lhes a] morrer para reviver através dos oprimidos e com eles [demonstrou que a] comunhão com eles pode fecundar-se” em ações transformadoras e emancipadoras (FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: 1982, p. 155).

Demonstrou, também, que podemos vencer a desconfiança, pois “desconfiar dos homens oprimidos, não é, propriamente, desconfiar deles enquanto homens, mas desconfiar do opressor ‘hospedado’ neles” (FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: 1982, p.199).

Dessa forma, a visão da Revolução de Angicos pode continua a inspirar e, ao aplicá-la, juntamente com outras metodologias , poderemos “sonhar juntos“ uma emancipação dos jovens e adultos com quem trabalhamos.


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