Quando a palavra “esperança” é usada, parece remeter a idéia de alcançar algo que está ainda muito distante de nós, mas que é extremamente necessário. Usando um dicionário de língua portuguesa (ou será brasileira?), a idéia é associada a “espera de algo que se deseja que aconteça”.

Podemos chamar “esperança” de utopia, isto é, aquilo que está em um tempo futuro (um amanhã incerto), ainda distante do presente (hoje, concreto), mas que pode ser alcançado. Um autor interessante, nesse sentido, é Ernest Bloch, que discute a utopia (esperança). Antonio Rufino Veira, professor do Departamento de Filosofia da UFPB, resume bem a idéia do pensamento de Bloch:

Segundo a linha de reflexão de Bloch, a utopia não é algo fantasioso, simples produto da imaginação, mas possui uma base real, com funções abertas à reestruturação da sociedade, obrigando a militância do sujeito, engajado em mudanças concretas, visando à nova sociedade. Assim, a utopia se torna viável à medida que possui o explícito desejo de ser realizada coletivamente.

Todos nós, obviamente, queremos muito que o jornalismo saia da possível “crise” de identidade ou, pelo menos, amadureça o suficiente, para assumir uma identidade mais próxima das demandas do século XXI que se inicia.

Porém, aguardamos “esperançosamente” que isso aconteça, quase de forma “miraculosa”. Isso não acontecerá. A(s) mudança(s) na identidade do jornalismo e de seu profissional, são desencadeadas por nossa discussão qualificada sobre a área e o fazer profissional. Apesar de termos “esperança” de um futuro para o jornalismo, não cabe ficarmos esperando, cabe ação; a espera é importante em um processo de conhecimento e elaboração de idéias. Mas até quando o jornalismo (e o jornalista) ficará esperando? Basta delegar para outro (ou a outros), o poder decisório sobre que identidade profissional queremos, ou que realmente necessitamos, em nosso espaço laboral?

O futuro do jornalismo, não pode ser “escrito” com tintas abstratas de uma esperança de mudança. Ele precisa ser escrito na concretude do hoje, mesmo que com dificuldade interpretativa e discursiva. Essa construção do “hoje jornalístico” é essencial para a estruturação da identidade profissional e dos processos formativos envolvidos.

Bloch, de base marxista, entendia que a “militância” e o “engajamento” eram palavras que necessitavam de um complemento, isto é, eram palavras que isoladas da ação coletiva, não significavam muito em termos práticos. Dessa forma, apesar de termos “esperança” nas mudanças que o jornalismo deve passar, não cabe aguardarmos que alguém faça as mudanças necessárias. Não podemos nos dar ao luxo, como área de conhecimento, de deixarmos o futuro ser construído por fatalidades ou acasos, mas temos de “tomar as rédeas” desse presente concreto e do futuro incerto.

Nós somos parte desse processo. Na verdade, podemos desencadeá-lo em nossas práticas diárias e nas reflexões sobre nosso fazer, desde que compreendamos e tomemos consciência que estamos dentro desse processo.

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