Essa é a discussão que Martin Conboy, professor da University of Sheffield, do Reino Unido, faz no artigo intitulado "A parachute of popularity for a commodity in freefall?". O artigo foi publicado no número especial de junho da revista Journalism, e trata da problemática "crise" que vive o jornalismo (e seus profissionais) nesse início de século.

Conboy parte da idéia de que o
[...] jornalismo é ameaçado por todos os lados na contemporaneidade. A reputação dos jornalistas continua a despencar e o jornalismo, parece ser incapaz de gerar interesse ativo, consistente, no processo político. [...] O principal motivo para preocupação, parece ser que, à luz do colapso das receitas de publicidade e  da fragmentação das audiências, impulsionado em parte pela introdução de novas tecnologias no campo da comunicação pública, o jornalismo está lutando  com o fim de um modelo de negócios.  O futuro do jornalismo depende, em grande medida, do que entendemos por  jornalismo.
Essa é uma constatação real: vivenciamos uma "crise", isto é, o modelo atual de negócios do jornalismo não responde mais as demandas impostas pelo mercado e, principalmente, pelos leitores. O papel dos jornais no processo de comunicação, como elemento central, já deixou há vários anos (melhor dizendo, décadas) de ser o que ele tensionava que ainda fosse. É claro que ainda há nichos muito fortes e tradicionais de leitores, mas os neoleitores atuais, já não creditam a força necessária para o modelo sobreviver.

E qual será esse futuro? Conboy defende que esse futuro passa pela redefinição do que é o jornalismo e de suas funções, sobretudo no papel desempenhado por alguns veículos que agem como verdadeiros "cães de guarda" de segmentos.

É interessante o reconhecimento por parte de Conboy, nesse artigo, da existência de "polaridades de espectro de jornalismo". O que vem a ser isso? É o que, em outros autores, conhecemos como nicho. Ele cita George Newnes, editor inglês, que escreveu em 1890, classificando dois modelos de jornais: "um que dirige as notícias para os assuntos das nações e, outro, não tão ambicioso, mas que, ano após ano,  leva diversão e entretenimento para as camadas de trabalhadores". E esse, parece ser, um problema para Conboy, já que o jornalismo (e seus profissionais), parecem querer apenas o "jornalismo que gera prêmios", o jornalismo dos grandes veículos, do reconhecimento nacional e internacional e, bem poucos, fazem um jornalismo cultural para as massas.

E onde entra a idéia de "queda livre" anunciada por ele? Justamente na noção de crise. Para ele, a crise no jornalismo, é uma "tentativa tardia de chegar a termos em questões que tem permeado outras construções culturais e políticas ao logo dos últimos 20 anos ou mais".  Outras áreas do conhecimento, já vivenciam essa indefinição epistemológica desde o início dos anos 1970, estando a comunicação "em crise", com a chegada do novo modelo midiático com interface virtual, na década de 1990.

Mais do que uma mercadoria que é comprada e vendida a um preço determinado, mais do que notícias que atendam um nicho privilegiado e dominante, o jornalismo (e seus profissionais), tem um responsabilidade social, que deve ser encarada como estratégia de mobilização democrática. Daí, nessa concepção, Conboy afirmar que, blogs e redes sociais, são um caminho inevitável no futuro do jornalismo. É dentro desse "ecossistema midiático", com suas experiências e vivências múltiplas, que os profissionais do futuro serão formados (ou deformados, dependendo do contexto!).

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