Essa é uma realidade que ainda está meio distante, mas que ganha força. Em notícia intitulada "A vez dos artigos" publicada na Folha de São Paulo, Sabine Righetti apresenta a constatação que publicar em revistas científicas pesa tanto que já substitui as teses em cursos de pós-graduação.

Pois é, segundo o artigo de Righetti,
[...] no Brasil, seguindo países como Holanda e EUA, alguns programas de pós-graduação já substituem a obrigação de escrever uma tese por artigos científicos. O aluno pode defender, em banca, três trabalhos publicados ou aceitos para publicação em revistas científicas. Pelo menos dois deles devem estar em periódicos de "alto impacto", ou seja, aqueles que são muito citados por pesquisadores. A substituição da tese pelos artigos é feita com aval da Capes (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que avalia a pós-graduação no país.
Quando escrevi minha dissertação de mestrado na UnB, a constatação de que muitos países já substituíam a tese por artigos foi um dos elementos que desenvolvi no contextos das experiências citadas no corpo da dissertação em 2003-4. Destaco que não era simplesmente a escrita de um ou dois artigos, mas a avaliação de uma produção respeitável, de uma ou mais décadas de trabalho acadêmico de ponta. 

É claro que, naquela época, a discussão era sobre a importância da formação em pesquisa em programas de mestrado e o impacto para a vida profissional do mestre egresso e, se era útil manter ou não essa formação. Já naquele tempo, o indicativo era de que é importante para a consolidação de uma futura carreira de pesquisador, a prática de pesquisa, mesmo que ele (egresso) não se reconheça ainda como tal.

Penso que, é possível termos um conjunto de artigos substituindo uma tese, mas me incomoda a ideia de aonde isso nos levará. Digo isso porque, no momento escrevo uma tese de doutorado. Sei o quanto é complexo, moroso e penoso esse processo. Também passei algum tempo em um "doutorado-sanduíche" em Portugal  e vi algumas realidades na formação jornalística da troca de dissertações por "relatórios de estágio profissional" no âmbito do Processo de Bolonha. 

Ao entrevistar colegas em quatro universidades portuguesas e escutar os possíveis impactos que eles enxergam com essa "transformação", a avaliação é extremamente negativa (de 10 entrevistados apenas 1 falou positivamente). Além disso, fica no ar um sentimento de "ausência da intelectualidade" (talvez causado pelo medo da mudança). 

Ainda é cedo para dizer o que ocorrerá de fato. Não sei se uma mudança desse porte, reguardando a "qualidade" poderia resolver. Mas é uma preocupação que deixo registrado para a posteridade. 


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