Quem acompanhou na semana passada a lista da COMPÓS, deve ter observado o "embate" entre duas posições formativas em torno da exigência ou não da formação específica em comunicação para editais de seleção de docentes na universidades.

O estopim dessa discussão, que se arrastou durante toda a semana com posições pró e contra, foi o edital para quatro vagas na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que exigia a formação em núcleo duro de Comunicação.

O primeiro a se manifestar foi o prof. Marcos Palacios, que apontou para alguns problemas:
Para cumprir o ritual, não posso deixar de, mais um vez, apontar o caráter restritivo das exigências estabelecidas para o concurso.  Admito que para as vagas 1 e 4 seja aceitável a exigência de Graduação em Comunicação, porém com a ressalva de igual admissibilidade para candidatos com Mestrado e/ou doutorado em Comunicação, como alternativa. Já para as vagas 2 e 3 a exigência de Graduação em Comunicação é simplesmente insustentável (suponho que até mesmo no plano jurídico), uma vez que são áreas de conhecimento perfeitamente passíveis de preenchimento por candidatos oriundos de várias graduações. Aceitável seria, neste caso, a exigência de Mestrado ou Doutorado na área de Comunicação.Mais uma vez, lamento o fechamento e o corporativismo que continuam imperando em nossos concursos.

Após essa mensagem de Palacios, começou a exposição de diferentes olhares, quer favoráveis, quer contrários a opinião. Entre eles estava a colega Rose Vidal, que recentemente terminou se mestrado em Comunicação Social. Segundo Vidal,
Eu discordo totalmente dos meus colegas, pois já existem tão poucos concursos para nós, comunicólogos, e quando surge ainda contestam. Deveriam contestar esse absurdo da queda do diploma para jornalistas. Nós que estamos saindo de mestrados e doutorados da área sabemos o quanto é difícil encontrar concurso.. É pela desunião da classe que a situação está cada vez pior. De 30 concursos abertos (efetivos) apenas este está oferecendo oportunidade para comunicação com formação (incluindo mestrado principalmente)....a escassez de oportunidade ninguém reclama...

Daí para frente, mais um enxurada de posicionamentos, que demonstram a diversidade natural existente na área de Comunicação, tão comum em outras tantas áreas. Mas em meio a diversas posturas, achei especialmente interessante a sugestão do colega José Luiz Braga. Leia a seguir seus argumentos:
As posições apresentadas são certamente compreensíveis, de parte a parte – na medida em que cada um percebe um lado da questão. Talvez essa reflexão pudesse ser, entretanto, aprofundada se não tentássemos definir uma espécie de padrão universal – tipo “todos os concursos devem favorecer um ingresso transdisciplinar” ou “todos os concursos devem favorecer formações específicas”. Creio que o critério que deve prevalecer em cada concurso específico seria o melhor preenchimento da vaga específica – segundo os objetivos especificamente atribuídos ao/à professor/a a ser contratado/a. Creio que em alguns casos, uma formação abrangente e diversificada será interessante, pois o professor deve trabalhar perspectivas comunicacionais que exijam justamente abrangência, articulação de conhecimentos diversos, percepção contextual daquilo que ensina, desenvolvimentos de interface com outra CHS. Nesse caso, cabe pedir que um dos níveis (ou graduação, ou mestrado, ou doutorado) tenha sido feito na área da Comunicação – aceitando, e mesmo preferindo que os outros níveis sejam diversos.
 Em outros casos, o departamento ou curso pode efetivamente estar interessado em um “especialista” – e talvez mais, alguém que tenha experiência profissional específica, além de uma formação voltada para um ângulo específico. Podemos precisar de um professor de jornalismo, que tenha graduação em jornalismo, eventualmente cobrar experiência profissional – e que tenha desenvolvido pesquisas (de mestrado e doutorado) sobre questões de jornalismo. Se esse é o perfil do professor necessário, não vejo porque não exigir tal especificidade (igualmente para qualquer das outras habilitações comunicacionais).
O problema, então, é que, talvez, organizadores de concursos não pensem nessa especificidade – e decidam uma coisa ou outra apenas com base em um padrão abstrato, ditado por um a priori ou por uma questão meramente burocrática. Se isso deve ser criticado, creio que não devemos cair também em posição apriorística – “tudo tem que ser x” ou “tudo tem que ser “y”. O que deveríamos reivindicar é que os concursos apresentem boas razões - ou seja, relacionadas ao perfil efetivamente pretendido para o professor - para determinar “x” ou “y”. Para além dessa pretensão de seriedade seletiva, podemos ainda refletir sobre um complemento. Se o Departamento não tem tanta certeza assim do perfil pretendido especificamente, seria inteligente não “fechar” o concurso – informando preferência pelo perfil de tal tipo – mas aceitando perfis próximos. Pois quem sabe aparece como candidato um “perfil próximo”, mas que, na especificidade do concurso, demonstra ser aquele que mais produtivamente assumirá as funções em concurso. Mesmo porque a especificidade pretendida pode não depender de “todos os níveis de formação”, mas ser desenvolvida em um ou dois deles.
 Assim, acredito na vantagem da abertura – simplesmente porque esta amplia a probabilidade de selecionar o candidato com perfil mais adequado. A obrigação maior de quem organiza um concurso não é o de atender a preferências genéricas abrangentes, mas sim a de maximizar a probabilidade de encontrar o professor (a professora) que efetivamente fará o melhor trabalho.
É interessante acompanhar esses embates, que representam a preocupação com a consolidação de uma área. Mas tendo a concordar com o prof. Palacios em suas indicações. Explico o porquê: tenho graduação em Pedagogia/Educação e, posteriormente em Comunicação Social/Jornalismo. Iniciei o processo de doutoramento em Comunicação Social antes de cursar a garduação nessa área. Procurei-a por achar que agregaria mais conhecimento e capacidade de intervenção na área por "falar de dentro da própria área", mas não foi isso que vi ocorrer. De fato, a graduação em comunicação agregou bem pouco em minha formação já pré-existente. Sim, conheci as teorias que antes não tinha acesso, troquei idéias com outros colegas, cresci. Mas não o quanto pensava e esperava para fazer diferença em meu processo de doutoramento.

Então, em que eu ganhei? Afirmo que graduar-me na área dura de comunicação me deu tranquilidade para falar de seus processos formativos. Posso falar da formação em comunicação/jornalismo por ter sido "agente" desse processo. E aí em tom bem "durkheiminiano" fui agente, isto é, percebi como no processo de formação, a passividade do alunado é grande e como a (de)formação ocorre durante as disciplinas.  Ganhei também por ter um "laboratório próprio", onde percebia as fragilidades formativas de meus colegas docentes tentando ensinar, quando na verdade não tinham fundamentação para falar do assunto. É, essa é uma realidade aqui no Tocantins e, arrisco-me a generalizar um pouco, talvez em boa parte das faculdades/universidades espalhadas pelo Brasil.


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