Vista frontal de Kasbah Ait ben Haddou
Quando se fala em barro, logo vem a mente uma associação a chuva (pelo menos na cabeça de um brasileiro nordestino como eu, que lembra das chuvas torrenciais de inverno de minha infância e como o barro se desmanchava durante a "tempestade"). Em minha cabeça, uma cidade de barro/areia só mesmo as que eu fazia na praia quando criança.

Dizer então que existe uma cidade feita de barro e de pé por centenas de anos, face à chuva e as intempéries, parecia "conto" para alegrar amigos em uma roda de papo. Mas me surpreendi que essa cidade existe.

Ela se chama Kasbah Ait ben Haddou e fica localizado a 30 km ao norte de Ouarzazat, no Marrocos. Um Kasbah é uma vila fortificada, com celeiros, um estábulo e, óbvio, um muro que abrange todo o perímetro (Alguns vão dizer que se trata de Ksar e que uma Kasbah é menor, mas não vou entrar nessa discussão, já que guias de turismo e diversos sítios a chamam de Kasbah).

O Kasbah Ait ben Haddou é bastante famosa no cinema, já tendo sido pano de fundo de inúmeras produções, tais como Lawrence da Arábia (1962), O Homem Que Queria Ser Rei (1975), Jesus de Nazaré (1977), A Jóia do Nilo (1985), A Última Tentação de Cristo (1988), A Múmia (1999), Gladiador (2000) e Alexandre (2004).

Materiais regionais: barro, palha e pedras
Essa cidade, também chamada pelas pessoas da região de "Porta/Portão do Saara", servia de ponto de partida/chegada das caravanas sedentas por descanso e comércio. Os edifícios são construídos com tijolos de terra e palha secos ao sol. É difícil pensar que essa "precariedade" possa abrigar andares de casas e, que sem nenhuma coluna de concreto fique de pé. Mas os séculos tem mostrado que é possível isso acontecer. Segundo o guia local que nos acompanhou, por ano, eles gastam cerca de 2 meses para reconstruir o que a chuva desmancha, preservando assim a memória visual do local.

O Kasbah Ait ben Haddou (ou Ksar Ait ben Haddou) não abriga uma grande população, já que os moradores migraram para o outro lado do rio Ounila, vivendo hoje em uma cidade mais moderna, de concreto. Segundo o guia que nos acompanhou, ainda habitam 07 famílias (os guias ilustrados falam em 10 famílias e, outro guia local, que estava acompanhando alguns italianos, falou em apenas 3 famílias). O que afirmam, é que essas famílias vivem da mesma forma como seus antepassados a, pelo menos, 800 anos.

O certo é que uma visita a esse local é uma verdadeira viagem no tempo. Um tempo em que as pessoas viviam com muito pouco e, mesmo diante de toda a precariedade, construíam impérios e defendiam suas vidas com mais intensidade. Não que hoje o marroquino não o faça, mas a "sensação" parece ser maior quando se adentra pelas estreitas ruas do Kasbah ou quando um vendedor tenta de vender uma imitação de astrolábio, jurando que é autêntico. É uma sensação única.

Compartilho as fotos que tirei do local pelo Facebook, bastando clicar no link público a seguir:



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