Letras, palavras, frases, sentenças bem elaboradas... Não faltam possibilidades no fazer jornalístico. Mas achar que esse "fazer" reduz-se apenas a contar uma boa história, é um ledo engano.
O trabalho de escrita jornalística compara-se ao trabalho de historiar. Não é de hoje que digo isso. Já declarei anteriormente que "existe uma linha muito tênue entre história e jornalismo" (Pôrto Jr, Gilson (Org).
História do Tempo Presente, Edusc, 2007). O historiador tem seu objeto de cientificidade no tempo passado (não tão distante como normalmente se assume) e, o jornalista, no tempo presente (o
ontem, não tão distante, mas também no
agora).
É nessa construção passado-presente, que emaram-se palavras, criando histórias de um presente efêmero, que encantam e informam. Mas o trabalho do jornalista e do próprio jornalismo, é mais do que apenas a escrita de uma boa história publicável.
Jeff Javis, que é professor na Universidade de Nova York, aponta para outras possibilidades no trabalho jornalístico. Ele defende o trabalho jornalístico como
processo e não apenas como
produto
Por que é esse posicionamento importante? Javis argumenta que o trabalho do jornalismo no presente assume diversas possibilidades que vão desde a construção de dados e algoritmos, até escrita em colaboração e o crowdsourcing. Todos esses são vistos por ele enquanto
processo.
O contar histórias não. Ele é produto, está acabado. E, nesse aspecto, o escritor de uma história "reinvidica para si o papel de centro da história", de criador e do "tom" que ele deve assumir. É como ele afirma: "contador de histórias está no controle".Não é esse o papel do jornalista? Também o é. Mas não deveria ser apenas esse.
Javis resume bem sua defesa de um jornalismo centrado nos
processos e não apenas no
produto:
Mas se continuarmos a assumir que o nosso papel é o do contador de histórias, e nos limitar a isso, então corremos o risco de fechar-nos às formas de captação e partilha de informações que não acabem sob a forma de histórias, que não estão organizados dessa forma. Quando nos abrimos, podemos pensar nos jornalistas como catalisadores, como organizadores da comunidade (e não apenas de informação, mas de uma comunidade, com habilidade para organizar as suas próprias informações), como professores, como curadores (como eu poderia passar por isso sem usar a palavra pelo menos uma vez?), como filtros, como fabricantes de ferramentas, como escritores de algoritmos.
Penso que essa defesa de Jarvis, indica bem quais os caminhos, ou melhor, que competências e habilidades devem fazer parte de qualquer processo de formação. É claro que não descartamos a construção de histórias, mas não podemos reduzir o fazer jornalístico a apenas histórias efêmeras, quando temos pela frente um "rio de possibilidades" nesse século que apenas está começando.