Esse é um dos medos modernos: perdemos o que resta de humano em nós. Alguns apontam para a tecnologia como "o início do fim". O cinema esbanja capacidade criativa nesse sentido: dezenas de títulos tem como lema a máxima "o homem constroi, a máquina aspira a humanidade, o homem é destruído, a máquina reeinventa o humano, o homem destrói a máquina".

Esse tem sido o "script" básico da maioria dos filmes. Não é, que a máxima não divirta nas horas livres, mas penso que poderíamos agregar "mais valor contemplativo" sobre o ato de "criar" histórias (na maioria deles).  Lembro-me ainda, da primeira vez, que assisti ao filme Metropolis (1927), de Fritz Lang. O mesmo sentimento de "medo" de perder a humanidade é transmitada pelo filme. O homem "cria e é devorado" por sua criatura.


Do expressionismo alemão de Fritz Lang à ficção científica de Michael Ferris, John Brancato, Robert Venditti e Brett Weldele: muita coisa continua na mesma. É o que esse "novo e apocalíptico" filme transmite. Ele é intitulado Surrogates (no Brasil, com tradução para Susbtitutos). O filme é baseado em uma história em quadrinhos e se passa em 2054 (veja o trailer). Em poucos segundos da introdução, você fica sabendo que foi desenvolvido por uma empresa uma tecnologia robótica para aplicar aos mutilados e/ou com algum tipo de deficiência, mas que em poucos anos ela é apropriada pela "indústria da moda", como forma de beleza. O lema é: "fique em casa, onde você está mais seguro e, viva intensamente, por meio do seu substituto". Obviamente, o que seria exceção - seres com partes robóticas transitando entre os humanos - vira regra: o belo está em ficar em casa (onde é mais seguro e confortável) e, deixar seu substituto cibernético em seu lugar no trabalho, na rua, na escola e até nas relações humanas (sexo, namoro, festas, etc...).

O enredo do filme é uma espécie de "Second Life", aonde toda a sociedade optou por abandonar o real - perigoso, doentio e feio - pelo "virtualmente belo", um robô susbtituto que assume a vida principal. Dá para se ter uma idéia do potencial: corpos perfeitos, "gente" sempre jovem e bonita, quase indestrutíveis. É a vida que todo mundo "sonha" (pelo menos no filme).

Não vou contar o filme para não estragar quem tenha tempo e disposição para assistir, mas não posso furtar-me a não comentar: no presente, muitos tentam transformar o que, geneticamente herdamos (beleza, "feiura", altura, espacialidade, etc.). O mundo virtual tem sido uma válvula de escape para alguns. A história em quadrinho e o filme apontam para o perigo de "deixarmos  nossa humanidade" de lado. O que nos faz humanos? Sermos do jeito que somos: com gordurinhas localizadas, com narizes "grandes" ou "arredondados", sermos altos ou baixos, gordos ou magros... A tecnologia media uma série de experiências, mas não podemos trocar, por exemplo, uma caminhada no parque, por simplesmente "assistir via streaming" o parque e a vida.

É nessa mediação entre o real e o virtual, que nós seres humanos, devemos aprimorar nossa humanidade, nossa existência. É por isso que, depois desse pequeno "delírio", vou andar um pouco no parque e sair de frente do computador.... Pelo menos por agora!

Corrigindo: começou a chover, vou ter que me contentar mesmo com a "experiência virtual". 


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